terça-feira, 19 de junho de 2012

Leonardo Boff: “Carta da Terra é indigesta ao mundo capitalista”

Na Cúpula dos Povos, teólogo critica “economia verde” em evento que lançou rede em defesa do documento

Da Revista Fórum (Online)

Um dos destaques do dia de abertura da Cúpula dos Povos foi o lançamento da Rede Brasileira da Carta da Terra, organizado pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade. O evento teve a participação do teólogo Leonardo Boff, de Maria Alice Setubal, do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), de Ana Rúbia, da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público e Meio Ambiente (Abrampa), e de Miriam Vilela, integrante da Carta da Terra Internacional.

Miriam ressaltou a importância da carta da terra no Brasil e no mundo. A primeira versão da carta foi elaborada na Cúpula da Terra ou Eco-92. Em 2000, sua versão final foi lançada em Haia, sendo assumida pela Unesco. Segundo Miriam, a rede já conta com a participação de 30 organizações. “É um movimento que convida os grupos a participarem do desenvolvimento sustentável”, disse.

O representante da Carta da Terra, teólogo e escritor, Leonardo Boff, teve a fala mais aguardada da tarde. Ele ressaltou a importância do conhecimento da Carta da Terra por toda a sociedade. “A Carta da Terra não é tão divulgada, porque ela não é digerível ao estômago do mundo capitalista”, disparou. “Ela é indigesta pelo mundo capitalista e exige mudanças que mostram a realidade que queremos.”

Boff ainda teceu críticas à “economia verde”, proposta pela ONU. “O tema básico da Rio+20 é ‘que futuro nós queremos’, o futuro que eles preparam lá, nos leva a beira do abismo. Um passo a mais nós caímos. Então por lá não passa esperança, não passa nada.” Segundo ele, o relatório apresentado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), sobre economia verde, é “um documento materialista, miserável, não fala nada de ética, de espiritualidade, de espírito humano, é economia e mais economia e agora pintada de verde”.

Para Boff, a Carta da Terra é um dos “mais belos documentos, se não o mais belo do começo século XXI. “Ela nasceu do grito da Terra, não veio das burocracias estatais. Ela veio de baixo, dos grupos quilombolas, negros, indígenas, de religiosos, de centros universitários, de todos os tipos de gente.”

E concluiu dizendo que “o século XX foi o século dos Direitos Humanos, e o século XXI será o século dos Direitos da Mãe Terra, dos direitos da natureza, das plantas, dos animais”.

Já Ana Rúbia enfatizou que o modelo de desenvolvimento “imposto é assumidamente insuficiente e a terra não aguenta”, para ela as pessoas precisam compreender que “jogar fora não é jogar fora, é jogar dentro”.

Maria Alice Setubal convidou os participantes a refletirem sobre a necessidade da construção de “um novo paradigma”, porque, segundo ela, o “eixo não pode ser mais a economia, e sim, o bem-estar da população”.

Confira o texto da Carta dos Povos aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário