ICLS


1 - A IMPORTÂNCIA DO ICLS

O ICLS é fruto da necessidade de debatermos a questão agrária em face da importância, que reputamos decisiva, que ela vem assumindo neste período em que o capital vem se interiorizando e submetendo o campo.
A reestruturação produtiva neoliberal, no Brasil. iniciada em começos dos anos 90, não afetou as relações sociais somente na cidade, mas o faz também no campo. Sob a égide da construção do agronegócio com fins de exportação e de produção de energia limpa, produz, com um pequeno aumento da área agriculturável, um estupendo aumento de produtividade e a inserção do capital estrangeiro no campo.
A própria inserção do país no plano da globalização e de forma imperialista (menor, mas crescente) está fortemente lastreada no crescimento do agro-negócio, seja interna ou externamente.
Não por acaso, os ataques dos setores ruralistas e da chamada grande imprensa aos movimentos sociais vem recrudescendo nos últimos anos, com o consequente acirramento das lutas no campo, regando o solo com o sangue de centenas de trabalhadores.
No entanto, no campo dos militantes que pugnam pela derrota do capital, ainda não foi possível obter uma elaboração unitária das necessidades da atual situação do campo, nem sequer consensual, da compreensão de como deve ser a atuação no setor agrário.
Deste modo, para superar esta deficiência presente hoje na análise das lutas dos militantes do campo (partidos e movimentos), criamos o ICLS, instrumento de debate e ação, aberto, que pretende, junto à todos que se interessam pelo assunto e tem uma visão de superação do capital, independentemente de partidos e organizações, ser espaço de formulação, debate e ação junto aos trabalhadores do campo (assalariados, assentados e produtores familiares) no sentido de contribuirmos por uma construção superior de toda a sociedade.
Iniciamos os nossos trabalhos (alguns pensadores e militantes de matriz socialista na questão agrária) em outubro de 2008, como um grupo de estudos que buscava estruturar um pensamento coletivo, tomando em conta a diversidade das experiências dos companheiros que apoiaram a iniciativa e que representavam uma significativa parcela geográfica do estado (São Paulo, Peruíbe, Campinas, Franca, Osasco, Bebedouro, Ribeirão Preto, Andradina e São José do Rio Preto).
Neste período que vai até dezembro de 2009, buscamos levantar dados e, através de contatos com entidades de luta, companheiros de universidades, inclusive de outros estados, sistematizar os conhecimentos e estabelecermos uma pauta de trabalho que ajudasse a viabilizar a construção deste instrumento de ação e debate que é o ICLS, concretizando-o no lançamento do instituo em janeiro de 2010.

2 – PROJETOS E OBJETIVOS

Em sua concepção central, o instituto constitui um pólo de formação/debate, que visa contribuir para a construção de uma visão e campo de ação, cumprindo, em relação às necessidades dos movimentos sociais em geral e do campo em particular, três papéis fundamentais:
  • A – Formação política;
  • B – Disseminação e apropriação de conhecimentos por parte dos trabalhadores do campo;
  • C – Desenvolvimento de projetos e políticas para o movimento agrário, promovendo cursos, debates, conferências, seminários e assessorias.
Para tanto, o ICLS oferece:


1 – CURSO DE FORMAÇÃO, EM QUATRO MÓDULOS:
  1. Módulo básico
    1. Trabalho e modos de produção
    2. Como funciona a sociedade capitalista
    3. Estado e classes sociais
  2. Movimentos Sociais do Campo
  3. História do movimento operário internacional (ludismo, cartismo até a 3ª Internacional)
  4. História do movimento operário no Brasil
Inicialmente, o primeiro módulo (1.1 a 1.3) deve ser dado integralmente em qualquer situação, enquanto os restantes (2 a 4) seriam adaptados às necessidades de quem os solicitasse.

2 – CICLO DE DEBATES
Na medida em que, no Brasil, o capital submete a todos os setores da produção, colocando, definitivamente, em oposição a burguesia e a classe trabalhadora, não deixando margens a qualquer tipo de conciliação de classe, bem como, promove um desenvolvimento agrário que mantém o grande latifúndio e atrela-se ao capital industrial e bancário, torna-se necessário avançar no debate mais profundo de como age o capitalismo com relação à classe trabalhadora e apontar, a partir dos clássicos e de contribuições contemporâneas, as formas de sua superação nos mais diversos setores de atividade.
Assim, montamos, quatro grandes blocos de estudos iniciais, quais sejam:
  1. Educação e Sociedade
  2. Saúde do trabalhador no capital
  3. Marxismo e realidade
  4. Capital no campo
Tais debates, teriam ocasião em nossa sede na capital de São Paulo, aos sábados, uma vez por mês, chamando à discussão, intelectuais, estudantes, sindicatos e movimentos sociais, da cidade e do campo, a partir da apresentação de textos bases a serem divulgados pelo ICLS.
Para tanto já contamos com a contribuição de 10 temas, alguns dos quais já apresentados em esferas de discussão acadêmica como o Centro Estudos Marxistas (CEMARX) do IFCH da UNICAMP.
A consequência que visamos é a da formação de um grupo de debatedores, entre trabalhadores, lideranças de movimentos e organizações políticas, que somando-se ao ICLS, venham a construir um centro difusor de ideias e propostas para as lutas travadas no campo e na cidade.

3 – CENTROS RURAIS DE CULTURA
A nova geografia do campo imposta pela completa inserção capital monopolista, não tem se apresentado como nos primórdios da construção capitalista no país. As grandes regiões agrícolas tomam a forma de uma grande área de municípios com um centro de concentração do capital e do consumo, ligada, pela movimentação dos trabalhadores de uma lado a outro, com o restante das cidades onde se estabelecem a industria do agronegócio, os assentamentos e as pequenas propriedades. Deste modo as contradições, conflitos e interação entre rural e urbano se confundem e se mostram muito evidentes, interligando os interesses políticos dos trabalhadores das duas áreas, interesses estes, hoje, subjugados às políticas de geração de renda, cidadania e consumo.
Assim, elaboramos a ideia de construção dos Centros Rurais de Cultura, pretendendo basicamente atingir toda a comunidade rural, com base nos seguintes princípios:
  • Aprofundar o debate sobre a necessidade das escolas rurais se constituírem em centros culturais possibilitando à população rural, que tem como características a dispersão populacional e baixa escolaridade, se apropriar do conjunto cultural produzido na sociedade e contribuir na apropriação do conhecimento sistematizado pela população rural;
  • A troca de experiências nos estudos e pesquisas sobre a história, desenvolvimento e atualidade da questão fundiária no Brasil, além de cursos e debates já organizados pelo Instituto e que podem ser realizados no Centro Rural de Cultura, além de criar um diálogo fundamental para o crescimento e fortalecimento das ações de formação, produção de saberes, universalização de conhecimentos e troca de experiências entre a população rural, o ICLS e a comunidade acadêmica;
Essas atividades são propostas nos eixos:
  • Oficinas temáticas na área da saúde, educação, meio ambiente, produção, agroindústria, agronegócio, produção familiar entre outros;
  • Cursos de economia política, história da organização dos trabalhadores urbanos e do campo, agroecologia, reestruturação produtiva e a organização do trabalho no campo, novo rural brasileiro e o impacto na formação e qualificação dos trabalhadores do campo, entre outros;
  • Criação de grupos culturais, musicais e teatrais;
  • Criação de grupos de estudos;
  • Criação de cineclubes com o apoio do Instituto Vianinha de São Paulo;
3 – QUEM É LYNDOLPHO SILVA

Militante comunista, organizado no PCB em 1946, Lyndolpho Silva é um verdadeiro ícone das lutas agrárias. Como escreve Luis Flávio de Carvalho Costa, na apresentação do Arquivo Lyndolpho Silva, do CPDA da UFRRJ:
“Lyndolpho Silva teve presença decisiva em todos os momentos chaves da história recente da incorporação do trabalhador rural no processo político brasileiro. A criação da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab) em 1954, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) em 1963, a luta pela legalização das associações rurais e pela criação da rede sindical rural que não podem ser bem compreendidas sem levar em conta, mais do que qualquer outro militante, o papel desse negro de origem humilde, alto, forte, gentil, inteligente.
Além de incansável ativista e articulista, Lyndolpho mostrou uma outra face da sua militância. Sua preocupação em coligir o material partidário e sindical revela uma profunda percepção da importância daqueles momentos de luta pela cidadania neste País, e da importância de tudo que pudesse servir a esse registro histórico. Colecionar os papéis significativos desse processo de extensão da cidadania, cujo valor para as nossas instituições democráticas nem sempre é reconhecido, já teria sido um ato expressivo para a nossa memória. Valoriza a ação as condições pelas quais a guarda foi feita. Os riscos de prisão, de tortura e de morte certamente foram muito mais altos para aqueles que de uma forma ou outra se envolveram com a preservação dos documentos, como o próprio Lyndolpho, sua viúva, dona Esperança Vico Cardona, familiares e companheiros de luta.”